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domingo, 2 de junho de 2013

A vida de M. C. Escher

 
Escher com 15 anos, 1913
 
 

 
Maurits Cornelis Escher nasceu a 17 de Junho de 1898 em Leenwarden (cidade no norte da Holanda). Filho de Sarah Gleichman e de George Arnold Escher, engenheiro civil, é encorajado desde cedo a aprender algumas artes ligadas à carpintaria. Mauk (como era tratado pela família) desenvolve rapidamente o gosto por trabalhos com madeira, aprendendo técnicas que mais tarde lhe serão muito úteis, nomeadamente a xilogravura.
Aos 13 anos dá entrada numa das escolas secundárias de Arrnheim para onde se havia mudado em 1903 com os pais. Era um aluno relativamente fraco, o que explica que não tenha conseguido obter o diploma final quando sai em 1918.
Neste espaço de tempo, e na companhia de um amigo, vai fazendo lineo-gravuras. O seu primeiro trabalho - Pássaro numa gaiola - data de 1916, e não foi apreciado pelos seus professores.

Em 1919, já com 21 anos, Escher vai para Haarlem estudar Arquitectura na Escola de Artes Decorativas. Descontente com o curso e contando com o incentivo do professor e director da escola, Samuel Jesserun de Mesquita (judeu de origem portuguesa), muda para o curso de Artes Decorativas. No entanto, apesar de dominar muito bem as técnicas de xilogravuras, o sucesso neste curso também não foi grande.
Perante tal situação, Escher acaba por abandonar a escola (1922), mantendo embora o apoio de Mesquita, com o qual manteve contacto até 1944, altura em que este é vítima do racismo nazi.
Jesserum Mesquita
Escher na viagem na Itália central
Ainda em 1922, Escher, na companhia de dois amigos holandeses, viaja pelo centro de Itália, país que o encanta desde logo! Pode ler-se mesmo, tal entusiasmo, nas suas cartas e diários, por exemplo, quando vê ao longe as 17 torres de San Diego “Parecia um sonho, não podia ser real...” (cit. in Locher, 1993, p.21). O encanto por Itália está na origem dos seus desenhos que tiveram início neste período.
Espanha foi outro dos países visitados por Escher em Setembro do mesmo ano. Desta visita é de destacar o contacto com a arte decorativa islâmica “...a coisa estranha para mim foi a grande riqueza de decoração e a grande dignidade e simples beleza do todo...” (cit. in Locher, 1993, p.23).
Apesar de ter gostado de Espanha, Escher não esqueceu Itália e passados dois meses aí regressou. Primeiro, instalou-se em Siena mas, em Março de 1923, foi para Ravello, no sul de Itália, onde conheceu Jetta Umiker com quem viria a casar.
Datam desta época, fins de 1922 e inícios de 1923, as primeiras xilogravuras de paisagens italianas. Em Junho do mesmo ano regressou a Siena onde, em Agosto, expôs, pela primeira vez individualmente, os seus trabalhos. Em Fevereiro do ano seguinte expõe na Holanda onde viria a fazer inúmeras exposições dos seus trabalhos.
Esta década foi muito marcante na vida de Escher tanto a nível artístico, dado que os seus trabalhos começam a ser conhecidos, como a nível pessoal. Em 1926, mudou-se de Ravello para Roma, onde viriam a nascer os seus dois filhos mais velhos, George (1926) e Arthur (1930).
O reconhecimento ia aumentando. A sua obra foi apreciada não só a nível europeu, nomeadamente na Holanda, mas também na América onde foi premiado com o terceiro lugar numa exposição em Chicago (1934), com a litografia “Nonza”. Antes disso, em 1932 e 1933 foram publicados dois livros com ilustrações de Escher, XXIV Emblemata e De vreeselijke avonturen van Scholastica, respectivamente.
Em 1935, face à situação política na Itália, mudou-se com a família para Chateaux-d’Oex
Escher em Roma, 1930
na Suíça, onde viria a viver pouco tempo. A paisagem parecia-lhe monótona e pouco inspiradora. Dizia mesmo “...detestável, branca miséria de neve...” (cit. in Locher, 1993, p.47). Assim, passados dois anos, e depois de ter feito uma viagem acompanhado da esposa revesitando alguns países como Espanha, França e Itália, mudou-se com a família para Ukkel na Bélgica, onde passados três anos foi pai pela terceira vez.
O ano de 1939 foi um ano dramático. Em Junho, Escher perdeu o pai que contava, então, 96 anos. Ainda não recomposto de tal perda, foi fustigado por mais uma tragédia familiar. Desta feita, em fins de Maio de 1940, perdeu a Mãe!
Auto - retrato, 1943
É então que, em 1941, decidiu regressar ao país natal, mudando-se para Baarn.
Só em 1951 parece ter atingido o ponto mais alto. Os artigos sobre Escher e o seu trabalho multiplicaram-se, nomeadamente em revistas como The Studio, Time e Life. Em 1954, em simultâneo com uma Conferência Internacional de Matemática, realizou-se em Amesterdão uma grande exposição dos trabalhos de Ercher no Stedelijk Museum. Expõe igualmente em Washington. Passados quatro anos, publicou o célebre texto – Regelmating Vlakverdeling – sobre a divisão regular do plano e, no ano seguinte, surge Grafick en Tekeningen M. C. Escher sobre a sua obra gráfica. Em 1960 expõe em Cambridge e é orador convidado numa conferência internacional de cristalografia. A sua obra torna-se, reconhecidamente, uma ponte entre a ciência e a arte.
Escher trabalhou sempre com regularidade, excepto quando alguns problemas de saúde o obrigaram afastar-se da vida artística. Referimo-nos ao período de 1962 a 1970 durante o qual foi submetido a algumas intervenções cirúrgicas. Mas, mesmo durante esse espaço de tempo, não esteve inactivo.
Um dos seus mais famosos trabalhos – Serpentes – data de 1969. Também ao nível de exposições não esteve parado. Os seus trabalhos foram apresentados publicamente numa grande exposição retrospectiva em The Hague (1968) e outra em Washington.
Depois de uma série de operações instala-se na Rosa Spier House em Laren, no norte da Holanda. Apesar do seu estado de saúde inspirar já algum cuidado, ainda chegou a assistir à publicação do livro -The World of M. C. Escher.
Faleceu a 27 de Março de 1972 no hospital de Hilversum quando ainda não tinha completado 74 anos.
 

Os Mundos Impossíveis
Nesta secção serão apresentados alguns dos “Mundos Impossíveis” esboçados por Escher, talvez a parte mais conhecida da sua obra. Como o próprio nome indica, trata-se de figuras impossíveis, estruturas que sugerem com grande força ser tridimensionais mas que, efectivamente, não estão construídas a três dimensões. “... esse é realmente o mérito de Escher, ao misturar o impossível com a realidade, enquadra as figuras impossíveis num cenário harmonioso que se afirma ‘real’ à vista do observador...” (A.P.M., 1998, p.20). Sobre estas figuras Coxeter (1988) nota que, embora não sendo “...matemática em detalhe, o são em espírito, conduzindo-nos a universos fantásticos e estimulando a nossa imaginação...” (cit. in Martinho, 1996, p.65).
Côncavo e Convexo
Embora possa, à primeira vista, parecer uma construção simétrica (o lado esquerdo é quase a imagem reflectida do lado directo), em Côncavo e Convexo (1955) existem pormenores de perspectiva atentamente estudados por Escher. A equivalência está de tal modo conseguida que o dilema: “Afinal, é côncavo ou convexo?” se coloca de forma extremamente forte a qualquer espectador da obra.
Côncavo e Convexo (1955)
Um ano depois da impressão de Côncavo e Convexo, Escher escreveu a Ernst:
“...pode imaginar que mais de um mês inteiro seguido reflecti sobre este desenho, pois nenhuma das minhas tentativas eram suficientemente claras. A condição prévia para um bom desenho (...) é que não falte uma relação sólida e simples com a realidade. Mal pode imaginar como o grande público é intelectualmente indiferente. Eu quero provocar-lhes um choque; se exagero, então não dá bom resultado...”
(cit. in Ernst, 1978, p.82).
 
Belveder
Inicialmente denominada por Escher como a “Casa Fantasma”, designação que é repetidamente utilizada nos estudos preliminares, a litografia Belveder data de 1958.
Belveder (1958)
A alteração deve-se ao facto de o desenho final nada ter, em si, de fantasmagórico. No entanto, tem muito de irreal!
Na verdade não pode haver nenhum edifício como o representado. A figura apresenta uma estrutura arquitectónica incoerente, resultante da ligação impossível entre os dois pisos, o inferior e o superior. Exemplo de tal impossibilidade está bem evidenciado na escada de mão, ao mesmo tempo dentro e fora do edifício, e nos pilares que unem os dois pisos, ao ligarem a parte da frente com a parte de trás.
Repare-se que o esquema subjacente a esta construção, está também presente no cubo - Cubo Impossível - que o rapaz sentado na parte inferior esquerda da gravura tem nas mãos e que podemos ver abaixo de forma ampliada.
Cubo Impossível
Queda de Água
No volume 49 do “British Journal of Psychology” (1958), Penrose publicou Tribar, uma espécie de triângulo, que, em virtude de os lados estarem ligados de forma incorrecta, resulta impossível.
Escher viu esta figura, bem conhecida na Matemática, na época em que estava completamente empenhado na construção de figuras impossíveis. É nela que se inspira para mais uma construção impossível – Queda de Água (1961).
Tribar
Queda de Água (1961)
Escher liga aqui três tribares, constituídos pelo canal da água e pelos pilares que o sustentam. De certa forma, está aqui representado também o “infinito”, através do movimento da água que parece estar continuamente a descer ao longo de um canal cujo termo coincide com o ponto mais alto e, consequentemente, com o início de uma nova descida. O que, para todos os efeitos, é impossível.
Escada Acima e Escada Abaixo
Um efeito de certa forma semelhante é conseguido em Escada Acima e Escada Abaixo (1960). Na base desta construção está novamente uma figura de Penrose “Escada de Penrose” – que se caracteriza por uma escada onde tanto se pode subir como descer sem que, em algum dos casos, se atinja o topo (no caso de subir), ou o fundo (no caso de descer).
Escada Acima e Escada Abaixo (1960)
Observando com atenção a figura, notamos que os monges do lado exterior parecem estar a subir continuamente uma escada sem que nunca atinjam um ponto mais alto do que aquele de onde partiram. Ao invés, os monges que circulam pela parte interior parecem descer incessantemente uma escada que parece não ter fim.


Descrição:
 

O Museu Oscar Niemeyer recebe a exposição "A Magia de Escher" a partir de 11 de abril até 11 de agosto de 2013. A mostra é interativa e conta com obras do artista holandês Maurits Cornelis Escher e reúne 85 peças, entre gravuras originais, desenhos e fac-símiles.
Vale apena visitar.


 

 
 
Fonte:

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